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Leptospirose

Definição

A leptospirose é uma zoonose causada por espiroquetas do gênero Leptospira, que infecta os seres humanos através de fluidos contaminados, sobretudo da urina de ratos 🐭.

Epidemiologia

A condição pode acometer qualquer indivíduo, Doc, mas atinge principalmente pacientes de 10 a 39 anos do sexo masculino (16:1)!

Além disso, há maior taxa de mortalidade em pacientes com mais de 50 anos e/ou naqueles que desenvolvem a doença de Weil 😢.

Etiologia

A bactéria causadora da Leptospirose são espiroquetas da espécie Leptospira interrogans. O principal reservatório das leptospiras são os ratos, mas, recentemente, devido a seu hábito domiciliar, os cachorros vêm crescendo como importantes portadores. (🐶🐭)

Transmissão

A transmissão ocorre através do contato direto com sangue, tecidos, órgãos ou urina de animais infectados com a espiroqueta, bem como de forma indireta com água ou solo contaminados com a urina de portadores.

Assim, algumas profissões acabam determinando maior risco de adquirir a doença, veja só Doc: 👇

  • Veterinários;
  • Colhedores de plantações inundadas (olha o arroz 🍚 aí!!);
  • Lixeiros;
  • Trabalhadores de redes de esgoto;

Ah, além disso, não podemos esquecer da forma mais comum de transmissão no meio urbano: as enchentes!! 🌊

Fisiopatologia

A espiroqueta penetra na pele através de abrasões ou diretamente pela mucosa íntegra, e assim consegue atingir a corrente sanguínea e se disseminar. Nos rins, coloniza os túbulos renais para permitir sua excreção pela urina e induz dificuldade na reabsorção de Na+ e K+ no túbulo contorcido proximal (TCP), bem como provoca nefrite intersticial focal e necrose tubular aguda. No fígado e na vesícula biliar, induz colestase e aumento das bilirrubinas. 👀

Por induzir lesão vascular, contribui para o aspecto rubínico da icterícia do paciente, deixando-o mais avermelhado. Além disso, pelo mesmo motivo, promove extravasamento plasmático com perda do volume circulante efetivo e, consequentemente, lesão renal e possível evolução com insuficiência renal aguda (IRA). Outras consequências incluem o aumento de risco de hemorragias do trato gastrointestinal (TGI) e hemoptise.

Quadro clínico

Os sintomas aparecem entre 3 e 13 dias após a infecção, podendo seguir duas formas: a anictérica ou a ictérico-hemorrágica (doença de Weil). Classicamente, a forma anictérica apresenta uma evolução bifásica, com uma fase de leptospirosemia e uma imune.

Forma anictérica

A fase de leptospirosemia se manifesta principalmente por febre alta, calafrios, cefaleia retro-orbitária e mialgia. Outras manifestações que podem facilitar a suspeição de leptospirose incluem a sufusão conjuntival e o eritema pré-tibial.

A fase imune ocorre após um período de “defervescência da febre”, a qual retorna junto com os sintomas mencionados anteriormente. Contudo, nesta fase, podem ocorrer manifestações neurológicas, como meningite asséptica, e comprometimentos oculares, como uveíte.

  • Febre alta
  • Cefaleia
  • Mialgia (+ panturrilhas)
  • Sufusão conjuntival 
  • Eritema pré-tibial

Forma ictérico-hemorrágica

A forma mais grave da leptospirose é a ictérico-hemorrágica, ou doença de Weil, isso, pois esta condição se caracteriza pela tríade de icterícia rubínica, disfunção renal e fenômenos hemorrágicos importantes, podendo evoluir com óbito. Um ponto importante para diferenciação com outras doenças ictéricas é sua baixa elevação das aminotransferases, não ultrapassando 200 U/L, bem como a IRA com baixo potássio sérico.

Veja só, Doc, a tríade da doença de Weil: 👇

  • Icterícia rubínica (bilirrubinas > 15 mg/dL)
  • Insuficiência renal aguda com hipopotassemia
  • Hematêmese, melena ou enterorragia / escarro hemoptóico 

💡 Macete!

Doc, a leptospirose pode se confundir com uma séeerie de outras doenças febris… por isso, a equipe da MedSimple destacou aqui alguns fatores que vão fazer você pensar muuito em um caso de leptospirose: 👇

  • Mialgia em panturrilhas;
  • Sufusão conjuntival;
  • IRA com hipopotassemia.
  • Icterícia rubínica com aminotransferases baixas (relativamente);

#FocoNaResidência!!

Diagnóstico

A confirmação diagnóstica de um caso suspeito de leptospirose deve ser feita pela associação entre a detecção de leptospiras (pelo menos um dos seguintes 👇) e sintomas sugestivos da doença. Assim, veja como podemos detectar as leptospiras, Doc:

  • Conversão sorológica (título > 1:200) ou aumento de 4x ou mais em reação de soroaglutinação microscópica (MAT) em duas amostras com 14-21 dias de diferença;
  • Detecção de IgM anti-leptospira por teste de reação de enzimaimunoensaio (ELISA)
  • Duas ou mais amostras de MAT com título > 1:800;
  • Detecção de leptospiras em cultura ou PCR.

Tratamento

A antibioticoterapia deve ser administrada antes do 5° dia de doença, haja visto ser uma condição autolimitada e o manejo visar somente a redução da intensidade e duração dos sintomas. Além disso, é importante disponibilizar para o paciente medidas terapêuticas de suporte de forma precoce, visando evitar complicações e óbitos, de acordo com as necessidades do paciente. 

Forma anictérica

  • Doxiciclina 100 mg VO 12/12h por 7 dias
  • Crianças < 9 anos, gestantes, IRA ou insuficiência hepática: amoxicilina 50 mg/kg VO 8/8h por 7 dias

Forma ictérico-hemorrágico

  • Penicilina G cristalina 1,5 milhões U IV 6/6h > 7 dias
  • Ampicilina 1g IV 6/6h > 7 dias
  • Alta gravidade ou suspeita de sepse: ceftriaxona 1-2g IV 24/24h > 7 dias, ou cefotaxima 1g IV 6/6h > 7 dias

Profilaxia

Para a profilaxia, recomenda-se a instituição de programas de controle de ratos em áreas urbanas, disponibilização de roupas especiais para trabalhadores de profissões de risco e medidas de saneamento básico.

Além disso, antibioticoterapia profilática com doxiciclina 200 mg em dose única está indicada em indivíduos que irão se expor a uma situação de risco em único momento.

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Referências

  1. Veronesi-Focaccia. Tratado de infectologia / Roberto Focaccia – 5. ed. rev. e atual. – São Paulo: Editora Atheneu, 2015. ISBN 978-85-388-0648-6 
  2. Salomão R. Infectologia: Bases clínicas e tratamento / Reinaldo Salomão – 1. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. ISBN: 978-85-277-3261-1
  3. Day N, Calderwood SB, Hall KK. Leptospirosis: Epidemiology, microbiology, clinical manifestations, and diagnosis. Sep 2022. UpToDate. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/leptospirosis-epidemiology-microbiology-clinical-manifestations-and-diagnosis#H1255005446 >
  4. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância em saúde. 5a ed. Brasília, DF; 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-svs/vigilancia/guia-de-vigilancia-em-saude_5ed_21nov21_isbn5.pdf/view.

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